quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Dona Cotinha










José Siebra de Oliveira, Setembro de 1964
(Publicado no Periódico da AABB do Crato, ano IX, num. 19)

            Quem esta cobiçada fêmea?
            Por ela, os machos lascivos lutam e se matam. Cândida Afrodite, atrai como Frinéia. Pura Inês dos cristãos, corrompe como Messalina. Pela posição de conquistá-la, os homens se debatem. Batalhas ardilosas, difamadoras, sanguinárias.
Do seu sólio ansiosa, espera a linda Dulcinéia os braços do vencedor, para melhor servir ao seu povo. Almeja o eleito porque ama a multidão. Quer o bem comum. Nestas batalhas, com algumas exceções, sempre vencem os voluptuosos. Os sábios, os prudentes, os honestos não lutam com filhos de lobos ou raposas. Isso é mitologia.
Alguém venceu. Eis o homem! Eis o eleito!
Arrancou-a do palácio, que é o do Tesouro, e, embevecido, esfomeado, ganancioso, carrega-a, como sua, para usá-la.
Ela se contorce, reboleia e grita. São lágrimas de papel velho e amarrotado como o cruzeiro do Brasil, pelo qual anseiam santos e pecadores.